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"Se não tem arroz, que comam macarrão": Mafalda, Taku Sekine e a autogestão das fake news

2020 não está pra brincadeira - mas claro, isso não é novidade para ninguém. Este ano insano parece ter sido escrito por um roteirista de novela mexicana depois de muito, mas muito mezcal, onde somos diariamente bombardeados por notícias, no mínimo, bastante desanimadoras, que invadem as nossas vidas como um turbilhão desenfreado.


"Se não tem arroz, que comam macarrão" - escreve o roteirista mexicano que não entendeu as lições da revolução francesa. Venho pensando neste isolamento como algo físico, e não social como costumamos chamar. Nunca estivemos tão conectados e virtualmente inseridos em uma enxurrada de informações que, muito mais corriqueiras do que deveriam ser (se é que deveriam), não possuem fundamento nenhum. A "autogestão das fake news", como disse Antonio Prata, nos intui o micro poder de não precisar pensar muito (afinal, tão mais relax não cansar o cérebro). Pra que pensar nas consequências de falar sobre sem conhecer, postar sem pesquisar, acusar sem provas? A gastronomia sentiu isso na pele essa semana com a triste perda do chef japonês Taku Sekine, que se suicidou após uma devastadora série de acusações ainda sem provas, sem julgamentos legais e bases sólidas. Atos cruéis contra o chef destruíram sua reputação e consequentemente, sua vida. Esquecemos os fundamentos dos direitos humanos sobre o valor das leis, sobre esperar um julgamento real: as certezas e verdades absolutas tornam-se efêmeras.


Ontem perdemos Quino, o criador da Mafalda. Responsável por um dos HQs mais amados da história, Quino deu vida a essa argentina inconformada, fã dos Beatles e de panquecas, que defendia a­ demo­cracia e os direitos das crianças, com um forte senso crítico para as injustiças sociais e para a existência humana. Mafalda detesta, mais que tudo, sopa, ou melhor, detesta a obrigação de comer sopa contra sua vontade, uma alusão ao autoritarismo. “Uma heroína de seu tempo”, disse Umberto Eco - e é por isso que escrevo essas palavras. Sejamos todos mais Mafaldas, sejamos heróis de nossos tempos e contestemos, no mínimo, os porquês. Não nos deixemos cair em verdades inconcretas.







Nas 📸, tirinhas da #mafalda , e uma foto minha e da minha irmã @mel_cordas

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