Aparentemente tenho uma alma velha. Pelo menos é o que sempre me disseram tarólogas, numerólogas e videntes que consultei algumas vezes em busca de respostas esclarecedoras – a última disse que esse ano seria maravilhoso, no aguardo. Aos 7 anos conheci o marzipan, trazido por um namorado austríaco da minha mãe na mala, e foi amor à primeira mordida. Coitada sofreu depois, não tinha um aniversário em que eu não pedisse os docinhos de marzipan ao invés vez de brigadeiros. Sempre preferi brincar com a minha avó de "limpar talheres de prata com Silvio" do que de boneca com minhas primas. Gostava de sentar com os adultos, pedir coquetel de frutas sem álcool e escolher o prato mais estranho do cardápio porque, segundo relatos, dizia que queria provar todas as comidas do mundo – pouca coisa mudou.
Lembro da primeira vez que fui a Madrid, em 1999. Fiquei obcecada com a Infanta Margarida (aquela do quadro do Velasquez) e cismei que queria conhecer o restaurante mais antigo (em funcionamento) do mundo. Não precisou de muito esforço para convencer meu pai a nos levar no Sobrino de Botín, fundado em 1725 e até hoje em operação. A alguns metros da Plaza Mayor, o lugar foi criado pelo cozinheiro francês Jean Botín em um prédio onde funcionava uma hospedaria desde 1590. O porão da casa ainda permanece o mesmo, assim como o forno a lenha, de onde saem pratos como o carro chefe Cochinillo Asado, um leitão assado criado na Segóvia, que faz feliz cerca de 800 pessoas por dia. A casa, claro, hoje é atração turística, mas já foi frequentada por diversos intelectuais ao longo dos anos, além de cenário para muitos livros. Dizem que o pintor Francisco de Goya trabalhou no Botin como garçom em 1765 enquanto esperava ser aceito na Academia de Belas Artes. Ernest Hemingway também era frequentador assíduo do restaurante, citando-o em dois de seus livros: “Morte à Tarde”, de 1932, e em “O Sol Também se Levanta”, de 1926, onde ilustra seu amor pelo restaurante: “Almoçamos no primeiro andar do Botín. É um dos melhores restaurantes do mundo. Comemos leitão assado e bebemos Rioja Alta".
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