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O que Jesus Comia?

Updated: Oct 31, 2018

Tempo de leitura: 4 minutos

O casamento em Caná. Marten De Vos, 1596-1597
O casamento em Caná. Marten De Vos, 1596-1597

Muitas das religiões têm conceitos claros de como os deuses se alimentavam. Muitos deles, mesmo que sejam considerados espíritos, recebem constantemente oferendas compostas por diferentes comidas e bebidas, supostamente, suas favoritas. Cada Orixá, por exemplo, têm suas comidas prediletas como feijão, abacate, farinha e acarajé, e os deuses gregos constantemente eram descritos tomando néctar e comendo ambrosia ou o conhecido “Manjar dos Deuses”


Na tradição judaico-cristã também existem alguns tipos de rituais com oferendas a Deus, mas como nestas religiões Ele é espírito não precisa de alimentos propriamente ditos. Algumas histórias do Antigo Testamento mostram que Deus aparentemente “gostava” do cheiro de comida, por isso quando animais eram sacrificados em rituais de reverência, estes eram descritos como exalando um “cheiro suave dedicado ao Senhor” (Levítico 1:9). O Deus Hebreu dita uma série de regras quanto a alimentação de seus seguidores, a culinária Kosher especifica animais que podem ou não serem comidos e as formas corretas de cozinhá-los.

Multiplicação dos Pães e Peixes. Mosaico.
Multiplicação dos Pães e Peixes. Mosaico.

A comida no cristianismo é abordada de forma diferente das outras religiões, afinal Jesus tinha uma forma humana e muitas passagens do Novo Testamento o mostram proporcionando comida para seus discípulos e seguidores. Vinho em casamentos, festas fartas de pão e peixe, e claro, a Santa Ceia. Mas mesmo com tantas histórias relacionadas a alimentos, não há muitas referências de Jesus se alimentando. Apenas uma passagem descrita na Bíblia se refere a isso: quando Ele come um pedaço de peixe grelhado (Lucas 24:41). O que nos faz saber que “sim, Ele comia” é o fato de ter ficado em jejum por 40 dias, episódio citado por Mateus, Marcos e Lucas, o que implica que em todos os outros, ele se alimentava.

Santa Ceia. Jacopo Bassano, 1542.
Santa Ceia. Jacopo Bassano, 1542.

O que é sabido baseado nos registros da época e nas comidas que aparecem na própria Bíblia, é que a dieta no período era bem parecida com a mediterrânea de hoje. Tinha como base o pão e o vinho, – vide a Santa Ceia – que ainda hoje são simbolicamente representados na Comunhão, momento mais importante da missa. Azeite de oliva era essencial e figos, tâmaras, romãs, nozes, grão de bico, lentilhas, queijos, cordeiro e carne de bode também eram bastante consumidos.


Jesus fez algumas tentativas de mudar as leis da alimentação Kosher, o que, no Cristianismo só foi concluído mais tarde por Paulo e alguns outros discípulos. A religião judaica, baseada no Antigo Testamento, ainda segue este tipo de alimentação, especialmente entre os ortodoxos. Um exemplo desta tentativa de mudança das leis Kosher está numa passagem (Mateus 9:15) em que Jesus e seus discípulos estão num casamento e são questionados sobre o porque não estão jejuando como os demais. Jesus responde então que seria indelicado não comer enquanto o noivo ainda está na festa (afinal jejuar seria um ato de penitência e tristeza) e dessa forma introduziu uma proposta de mudança nas regras Kosher.

A Ceia em Emaús. Caravaggio, 1601.
A Ceia em Emaús. Caravaggio, 1601.

Outras passagens ao longo do Novo Testamento também demonstram essa tentativa de mudança. Isso pode ser explicado pelo fato de que no início da construção da religião católica, os discípulos de Jesus, a fim de divulgar suas idéias, precisaram ser mais abertos e aceitar muitas pessoas de diferentes religiões e raças. Por isso passaram a se desprender das regras gastronômicas judaicas (muito restritivas) e a não mais possuir nenhuma orientação alimentar. Uma passagem do Novo Testamento (Atos, 10) em que essa idéia fica bem clara é quando Pedro, ao ver um cozido sendo feito com uma carne considerada “proibida” para os judeus, sente repulsa pela comida, uma vez que foi educado nesta religião. No mesmo instante ouve a voz de Deus que diz: “levante-se Pedro, mata e come!”, como quem diz, “nenhuma comida é proibida porque foi criada por Deus”. Esse tipo de mensagem contribuiu para que não fossem bem sucedidas diversas tentativas católicas de impor regras alimentares anos mais tarde.


O pão sempre foi o símbolo mais forte do catolicismo, representando o sacrifício de Cristo e celebrado durante a comunhão, através da hóstia. Diversos formatos de pães e doces que conhecemos hoje foram criados a partir de símbolos católicos. Alguns exemplos deles são:

Pretzel

Criados por monges do sul da França (610 dC), são considerados um emblema de boa sorte na Europa. Seus três buracos representam a Santíssima Trindade e o torcido da massa representam braços de uma criança rezando. O Pretzel é usado para decorar árvores de natal na Áustria, são pendurados no pescoço das crianças no ano novo alemão e era uma tradição antiga escondê-lo no dia de Páscoa ao redor da Europa.

Pão de Santa Ágata

Conhecidos como Minni di Virgini na Itália, estes pãezinhos de frutas são servidos no dia da festa de Santa Ágata (5 de fevereiro) com formato redondo e uma cereja no topo, representando um seio. Santa Ágata foi martirizada e teve seus seios cortados por se recusar a entregar sua castidade e virgindade ao consular romano Quinciano.

Baklava

Este doce grego é supostamente feito com 33 camadas de massa, referindo-se aos anos da vida de Jesus Cristo.

Biscoito de Páscoa Inglês

Este biscoito inglês tem sabor de cássia, porque o perfume desta flor foi usado para preparar o corpo de Jesus para o enterro.

Hot Cross Bun

Este pãozinho doce, com passas e especiarias, é famoso na Inglaterra desde os primórdios do Império. Feito com alguns símbolos católicos como as especiarias, que se referem aos temperos que foram deixados em volta de Cristo na tumba e o desenho de cruz sobre o pão, que faz analogia à crucificação.

Tsoureki

Este pão grego trançado simboliza a Santíssima Trindade e é comido na Páscoa na Grécia junto com ovos tingidos de vermelho que simbolizam o renascimento.

Religieuse

Este tipo de éclair francesa é feita para se assemelhar a forma de uma freira :)

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