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A história e as estórias do chá


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O chá tem história. Atravessou povos, continentes, séculos, definiu nações comercial e culturalmente, ditou rituais e estabeleceu costumes cotidianos que perduram até os dias de hoje. Mas o chá tem também estórias. A maior parte delas, baseada em mitos e lendas, através dos quais buscamos captar sua essência e origem.


O chá é a bebida feita a partir da infusão da planta Camellia sinensis e é a segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água. Branco, verde, preto, oolong, fermentado… os diferentes tipos de chás são todos provenientes dessa planta que foi encontrada por acaso, há mais de 5 mil anos e hoje está presente no mundo todo: do castelo de Buckingham, ao interior da Índia e em cozinhas do Brasil.


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Imagem: representação de Shennong


Muitas das lendas do descobrimento do chá envolvem Shennong, governante e herói chinês, conhecido como Divino Agricultor ou como Imperador Vermelho, que viveu há cerca de 5.000 anos. Reza a lenda que Shennong ensinou aos antigos chineses sobre agricultura e sobre usos medicinais de plantas, criou o calendário chinês, ajudou na compreensão da acupuntura, além de ter sido essencial para o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa - entre tantos feitos, Shennong descobriu o chá. Aparentemente o Divino Agricultor provava as mais diferentes plantas para conhecer seu uso - chegando a se envenenar mais de 72 vezes. Um belo dia, enquanto buscava novas plantas no jardim, uma folha de, nada mais nada menos que camellia sinensis, voou dentro de uma água que fervia ali perto e Shennong, assim, descobriu os poderes mágicos do chá - era pra ser.


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As folhas desta planta fantástica começaram a fazer sucesso - eram boas para a digestão, para curar envenenamentos e para trazer energia aos trabalhadores do campo. No início, o chá era consumido em forma de alimento - suas folhas eram ingeridas como um vegetal ou misturadas em um mingau feito com grãos. Foi só alguns séculos depois que passaram a secá-las, triturá-las e servi-las em água quente, tornando-se então, durante a Dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.), uma bebida cerimonial. Com a popularidade do chá, apetrechos para seu preparo começaram a surgir: chaleiras de laca, copos de porcelana, misturadores requintados e, assim, casas de chás se tornaram um importante centro da vida social chinesa - amigos e famílias se reuniam para fazer negócios e para desfrutar de momentos de lazer. O chá estava presente em livros, poesias e músicas. Era motivo para desenhos, pinturas, gravuras e até mesmo ilustrações sobre a espuma do chá tornaram-se um ofício - algo semelhante aos desenhos feitos por baristas na espuma do seu capuccino.


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Foi apenas no século VIII que o chá começou a ser cultivado no Japão. Aparentemente, um monge budista teve contato com a bebida chinesa, e inseriu seu preparo nas cerimônias zen budistas. Por volta do ano 1100, já se falava de, no mínimo, três cerimônias de chás criadas para ajudar na meditação zen budista, o que evoluiu para o que hoje conhecemos como a tradicional Cerimônia do Chá - um ritual japonês que, através da concentração e dedicação (o ritual pode levar até quatro horas para ser realizado), seus praticantes são capazes de incorporar conceitos filosóficos e espirituais que transformam seu olhar sobre a vida.


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Tardou para o chá chegar no Ocidente. Foi apenas quando holandeses estabeleceram comércio com a China, que o primeiro carregamento chegou na Europa, em 1606. Não demorou muito para o chá se tornar um dos principais ativos de exportação chinesa, junto com a seda e a porcelana.


Uma vez na Europa, o chá ganhou a boca do povo - quer dizer, mais precisamente da elite que achava graça na bebida exótica e estimulante. A portuguesa Catarina de Bragança (1638-1705) se apaixonou pelo chá e levou-o consigo quando se casou com Carlos II, rei da Inglaterra, instaurando de uma vez por todas a tradicional bebida na corte inglesa - de onde nunca mais saiu.


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Devido ao seu alto custo, a bebida na Inglaterra se tornou exclusiva da elite, uma forma de entretenimento da aristocracia que esbanjava o consumo do chá em rebuscadas porcelanas sobre toalhas de mesa milionárias e talheres vindos de além mar - assim nasceram as festas do chá, que se tornaram moda em 1800, quando Anna Russell, Duquesa de Bedford e amiga íntima da rainha Vitória, criou o termo "chá da tarde" para o ritual que fazia todos os dias às 17hs, instaurando para sempre, um novo costume cultural no Reino Unido.


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No Brasil, as primeiras mudas de camellia sinensis chegaram em 1812 a mando de D. João VI, grande apreciador da bebida, vindas de Macau para serem plantadas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Dois anos depois, cerca de 300 imigrantes chineses chegaram para implementar a produção.


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As plantações de chá na cidade de São Paulo começaram no Centro e se estenderam até o Ibirapuera, Bexiga e Morumbi - que, inclusive, era uma grande fazenda doada por D. João VI ao inglês John Rudge Maxwell, com o intuito de produzir chá onde hoje é a Casa da Fazenda do Morumbi.


No centro da cidade, a grande plantação de chás ficava na chácara da Baronesa de Tatuí, conhecida na época como Morro do Chá. Pela dificuldade de locomoção dos moradores do local, foi necessário criar um viaduto que atravessasse o Vale do Anhangabaú, que separava a região pelo rio de mesmo nome - assim, em 1888, iniciou-se a construção do Viaduto do Chá.


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Mas o chá apenas ganhou força no Estado quando o imigrante japonês, Torazo Okamoto, que chegou ao país em 1919, resolveu cultivar mudas de chá em Registro, no Vale do Ribeira, com sementes trazidas do Sri Lanka, dentro de miolos de pão para não perdê-las na fiscalização brasileira. A cidade, até hoje, é conhecida como a Capital do Chá do país e, é também, marco da colonização japonesa no Estado de São Paulo.


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Embora menos popular que o café em nosso país, o chá ganhou o mundo com suas inúmeras variedades que atendem a todos os momentos - e motivos - para serem apreciados. Um bom chá cura qualquer gripe com uma boa colherada de mel e limão, mata a sede na praia "olha o mate geladooo", acalma os ânimos em poucos goles de uma infusão de camomila e é cura milagrosa para dor de barriga "toma um boldinho, toma". O chá atende todas as idades, paladares, manias, ansiedades e desilusões. E se você, ainda acha que "It 's not your cup of tea", procure mais um pouco - com certeza tem um chá quentinho esperando por você em algum lugar do mundo.


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Imagem: Fazenda de Chá no Itacolomi. Djanira, 1958.





6 Comments


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Comes por Katherina Cordás © 2018 

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