"Comida de alma é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada" Nina Horta

Já faz tempo que queria fazer esse post mas não encontrava as palavras adequadas - e, na verdade, ainda não encontrei. Não é fácil escrever sobre duas contadoras de histórias, cada uma da sua forma, ambas capazes de escrever sobre comida, contando sobre a vida.
Fiz o curso sobre Nina Horta, ministrado pela @luiza_fecarotta , junto a uma 1a turma de peso - da qual me sinto honrada de ter feito parte. Já na primeira aula estava claro - apenas Luiza poderia falar de Nina com tamanha propriedade e sensibilidade. E falar de Nina é falar do cotidiano e de todas as camadas que permeiam esse complexo-subestimado passar dos dias, com os olhos bem abertos aos detalhes que tornam a vida mais gostosa. Afinal, "E o que há de mais cotidiano que o cotidiano da comida?" já dizia Nina.
Nina fez de suas palavras um confessionário da rotina, e Luiza fez de Nina sua vizinha confidente, como aquelas que, de tanto tomar chá - ou um bom whisky - entendem as nuances daquela existência e a sensibilidade das entranhas do dia-a-dia - das que muitos conhecem, mas poucos absorvem. Se você não for uma pedra, gelada e desalmada, ler Nina vai influenciar sua escrita, sua leitura, suas conversas e, ouso dizer, o modo de enxergar o mundo. "Nina Horta enxergava no ato de cozinhar um modo de se amarrar à vida com simplicidade. E replicava essa simplicidade num exercício ilimitado de rememorar o cotidiano."escreveu Luiza Fecarotta para a Folha.
"Comida de alma (...) dá segurança, enche o estômago, conforta a alma, lembra a infância e o costume. É a canja de mãe judia (...) O macarrão cabelo-de-anjo cozido mole e passado na manteiga. O caldo de galinha gelatinoso, tomado às colheradas. São as sopas. O leite quente com canela, o arroz doce..." De Proust a Ratatouille, comida é gatilho para o despertar das lembranças. Uma mordida, um gole, um aroma - meios de acender diferentes sensações. E ler Nina é pensar sobre comida de forma descomplicada, verdadeira. É fazer comida boa, simples. É aprender a ver a comida como o mais delicioso fio condutor das vivências humanas.
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