Cada vez mais atual (e necessário) o debate a respeito do vegetarianismo já era assunto na vida intelectual da Antiguidade. A abstenção de carne animal foi chamada pelos gregos antigos de ἀποχὴτῶνἐμψύχων, ou "abstinência de seres com almas": a principal motivação dos gregos quanto a uma alimentação livre de carne era sobre a purificação da alma em busca de uma vida ascética - existia na época uma forte discussão sobre se a alma humana e a de animais possuíam algo em comum. Além disso, existem também registros de um intenso debate entre muitos pensadores do período, sobre a justiça perante os animais e se a mesma aplicada aos homens deveria se estender a eles. Embora fosse um pensamento minoritário, discutido entre a elite e em círculos filosóficos, o vegetarianismo manteve-se por alguns séculos em pauta entre os gregos antigos. Os primeiros testemunhos de uma abstenção intencional de carne foram atribuídos aos órficos, que discutiam sobre a proibição do derramamento de sangue animal com o objetivo de purificar a alma humana. Pitágoras, além do "quadrado da hipotenusa ser igual à soma dos quadrados dos catetos", também foi um grande propagador da abstenção de carne, associando-a a transmigração das almas ou à noção de parentesco entre os seres vivos - motivo pelo qual também não comia feijão: aparentemente seus seguidores eram proibidos de tocar qualquer tipo de feijão provavelmente porque, devido a sua forma similar a de um feto, também era associado a esta idéia de que uma alma pode passar de um corpo para outro. Na Academia Platônica, houve um grande debate em torno da ética animal e do modo de vida vegetariano. Teofrasto, sucessor de Aristóteles, defendeu que todos os seres vivos não só possuem características físicas semelhantes, mas também psicológicas, possuindo assim almas da mesma espécie e, consequentemente, as mesmas paixões. Pois é, um assunto tão em voga nos dias de hoje, tanto por aspectos nutricionais e ambientais, quanto pela ética em relação aos animais, já era discutido vividamente na antiguidade, e não apenas nos círculos intelectuais da Grécia, mas também pelos egípcios, persas, judeus, indianos e por aí vai…
colagem de @bethhoeckel
Imagem de manuscrito francês de 1512 "Pitágoras fugindo de feijões"
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